Postado em 15 de Agosto de 2025
A matéria do Valor Econômico em que André Esteves recomenda calma diante das tarifas americanas não é uma análise técnica. É um movimento político. Disfarçado de prudência, o discurso do presidente do BTG visa conter qualquer impulso de reação institucional e proteger os interesses diretos do mercado financeiro em um ambiente que já sofre os impactos de uma crise jurídica que transbordou para o exterior.
Quando um banqueiro se antecipa ao Itamaraty para dizer o que o Brasil deve ou não fazer, não se trata apenas de influência. Trata-se de ocupação de espaço. O silêncio de Brasília, somado à paralisia diplomática do governo, abre caminho para que agentes privados com interesses globais assumam o protagonismo da fala institucional. E quando esse agente é um banco com relações internacionais, operações expostas e ativos em risco, o conteúdo da fala é previsível: evitar qualquer resposta que possa acelerar o custo reputacional da crise brasileira.
Esteves não está preocupado com o país. Está preocupado com os fluxos. A moderação que defende serve à blindagem das estruturas que sustentam o BTG. Diante das sanções individuais impostas por Washington e da possibilidade real de escalada, a ordem do dia não é enfrentamento nem reparação, mas contenção. A narrativa que emula racionalidade econômica se constrói para preservar ativos, não para proteger soberania.
Por trás do apelo técnico, há um pedido claro: não tensionem. Não falem em crise. Não respondam à altura. Apenas esperem. A conta, como sempre, será repassada aos que não têm acesso às mesas de negociação. O Estado segue inerte, o Congresso finge normalidade, e o sistema financeiro organiza suas próprias salas de guerra — como já se viu quando os principais atores do mercado se reuniram na casa de Rodrigo Maia para conter os danos de medidas judiciais externas. Ali se revelou que há uma coordenação informal entre setores do establishment para impedir que o Brasil reaja à própria degradação institucional.
A lógica é simples. Quanto menos se fala da crise, menor o risco de que ela impacte diretamente o sistema. Mas a realidade impõe limites. A sanção de um ministro da mais alta corte do país não é mais ruído interno. Ela projeta o Brasil como jurisdição de risco e coloca em xeque a segurança jurídica de todas as suas instituições.
O problema é que parte da elite econômica já internalizou a crise como custo fixo. Desde que os fluxos não sejam interrompidos, vale manter tudo como está. A pressão internacional se torna incômoda justamente porque obriga o sistema a olhar para fora do próprio conforto. E por isso precisa ser neutralizada.
O que está em jogo não é apenas a imagem do Brasil no exterior. É a escolha entre proteger um banco ou enfrentar um colapso institucional que já virou caso internacional. Até agora, o mercado escolheu o lado que conhece. O lado da própria conta.