O papel do empresariado na saída da crise institucional

Publicado em 14 de Agosto de 2025

A reação de parte do empresariado brasileiro à escalada tarifária imposta pelos Estados Unidos revela um padrão recorrente: a busca por atalhos diplomáticos para resolver problemas que têm origem interna. A carta enviada por Donald Trump ao Brasil foi explícita ao associar as tarifas não a desequilíbrios comerciais, mas à instabilidade institucional. A mensagem foi clara ao vincular a medida ao julgamento de Jair Bolsonaro e à atuação do Supremo Tribunal Federal, classificadas como “caça às bruxas”.

Ainda assim, a resposta predominante entre setores empresariais segue centrada na expectativa de um telefonema entre Lula e Trump, como se um gesto simbólico fosse suficiente para reverter a decisão. Essa leitura ignora que, para Washington, o problema identificado é estrutural: um ambiente político e jurídico percebido como imprevisível, que aumenta o risco de se fazer negócios com o Brasil.

O Itamaraty já indicou que conversas entre chefes de Estado costumam ser a etapa final de uma negociação bem preparada, não o ponto de partida. Sem que o país apresente sinais concretos de redução do risco institucional, qualquer diálogo desse tipo corre o risco de ser interpretado como movimento vazio, incapaz de alterar a percepção externa.

É nesse ponto que o empresariado precisa rever sua estratégia. Não basta buscar mediação junto a autoridades estrangeiras ou recorrer a canais de influência internacional. É indispensável atuar também no campo interno, pressionando o Congresso a avançar nas pautas que podem, de fato, contribuir para destravar a crise institucional. Entre essas pautas, a anistia ocupa lugar central.

A anistia, nesse contexto, não é apenas um instrumento de pacificação da política interna. É também um sinal para fora do país de que o Brasil está disposto a reduzir tensões que alimentam a instabilidade e, por consequência, afetam sua previsibilidade como parceiro comercial. A percepção de estabilidade institucional é um dos elementos mais valorizados por governos e investidores na hora de definir tarifas, restrições ou condições de crédito.

O empresariado brasileiro, portanto, tem dois campos de ação complementares. No exterior, manter canais de diálogo que permitam explicar o interesse nacional e buscar reversões ou ajustes de medidas punitivas. Internamente, agir com a mesma energia para remover os fatores que sustentam a instabilidade institucional. Concentrar-se apenas no primeiro é como negociar taxas de juros sem tratar do risco de inadimplência: a estrutura do problema permanece intacta. O movimento mais inteligente é alinhar as pautas estratégicas internas às iniciativas diplomáticas, garantindo que o discurso externo não se descole da realidade política do país. Sem essa coerência, qualquer vitória lá fora será frágil e temporária.

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos não foi um ponto fora da curva. Foi a aplicação prática da lógica de que pressões econômicas podem induzir mudanças políticas. Enquanto essa lógica encontrar terreno fértil, medidas semelhantes continuarão sendo usadas contra o Brasil. Reconhecer esse cenário e agir de forma coordenada para enfrentá-lo é a única forma de transformar gestos diplomáticos em resultados concretos.

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