A Porta Estava Aberta: Como o Senado Desperdiçou o Único Acesso Real à Casa Branca

Enquanto o Senado organiza uma delegação de última hora para “negociar” com os Estados Unidos em plena crise tarifária, há um fato que o sistema político insiste em ignorar: nenhum brasileiro tem hoje mais acesso real à Casa Branca do que Eduardo Bolsonaro. Mas, em vez de acionar quem pode abrir portas de verdade, optou-se por uma trupe parlamentar que mais parece animadora de picadeiro do que agente diplomático.

A carta enviada por Donald Trump ao governo brasileiro foi clara. Não se tratava de gentileza diplomática ou protocolo. Era uma carta-condição, um recado direto: ou o Brasil revê sua submissão estratégica à China, contenha sua instabilidade institucional e sinalize um mínimo de previsibilidade — ou enfrentará consequências. O Planalto fingiu que não entendeu. Ignorou o conteúdo. E agora colhe o resultado: silêncio, tarifa e isolamento.

Em qualquer país com noção geopolítica, o próximo passo seria evidente: acionar os canais certos, usar os ativos disponíveis, envolver os nomes que têm influência real sobre a ala republicana. Mas não. O Senado preferiu montar uma comitiva teatral, composta por figuras que não têm qualquer peso junto ao Partido Republicano, mas que adoram posar para fotos e discursar em busca de likes. Se há algo que não falta nessa operação é vaidade.

Eduardo Bolsonaro, com trânsito direto em Washington, relações consolidadas com congressistas americanos e histórico de atuação junto a think tanks conservadores, poderia ser o elo pragmático para reverter o cenário. Mas isso exigiria maturidade institucional — e o Senado, embalado por rivalidades internas e miopia ideológica, prefere sabotar quem pode ajudar a admitir que precisa dele.

Essa escolha tem custo. Não apenas diplomático, mas econômico. Enquanto o agro nacional calcula as perdas com as tarifas, a delegação brasileira faz turismo político no Capitólio, como se a crise fosse resolvida com boa vontade e improviso. O único brasileiro com interlocução séria nos EUA segue sendo ignorado — não por falta de capacidade, mas porque sua presença desmonta o teatro.

No fim, o problema não é falta de acesso. O problema é político. O Senado insiste em representar um Brasil fictício, em que fórmulas institucionais superam relações reais. E, nesse jogo, quem perde não é a vaidade parlamentar — é o produtor que exporta, o setor que emprega e o país que finge não saber onde está a porta certa. Mesmo quando ela já estava escancarada.

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