A maioria acredita que a guerra informacional começou com as redes sociais. Mas ela nasceu muito antes, quando o Pentágono percebeu que mísseis podiam ser substituídos por manchetes. A guerra do século XXI é uma guerra de narrativas — e seu marco inaugural foi a operação Tempestade do Deserto, a fase ofensiva da Guerra do Golfo, após a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1991. Desde então, a manipulação da opinião pública deixou de ser exceção e passou a ser um método.
Ali começou a doutrina de “dominação informacional”: o uso massivo de mídia, propaganda, redes e dados para modelar percepções em tempo real. Tudo foi testado naquela guerra — desde a fabricação de testemunhos comoventes até o uso tático da CNN como braço auxiliar da operação militar. A jovem Nayirah, apresentada ao mundo como enfermeira voluntária, era filha do embaixador do Kuwait. Seu falso relato sobre bebês arrancados de incubadoras foi decisivo para convencer o Congresso americano a autorizar o ataque ao Iraque.
Esse modelo se sofisticou. Veio a informatização das Forças Armadas. Depois, a aliança da CIA com o Vale do Silício. Em 1996, já havia manuais militares nos EUA descrevendo como degradar os sensores do inimigo, corromper suas redes, embaralhar seus dados e ocupar seus canais de comunicação. A guerra do futuro seria travada não por soldados, mas por algoritmos.
É aqui que tudo se conecta. O sistema financeiro foi eletrificado. O telefone do corretor virou código de alta frequência. Os mercados migraram para plataformas digitais. O discurso público foi sequestrado por fluxos automáticos. Hoje, a inteligência artificial que sugere o que você lê, assiste e consome, é parte do mesmo processo iniciado lá atrás: a substituição do campo de batalha físico por uma arquitetura invisível de controle informacional.
O que estamos vendo agora — seja com o DREX, o controle das redes sociais, o avanço dos tribunais sobre a liberdade de expressão — não é uma ruptura. É continuidade. O deep state americano financiou empresas como Google, Palantir e In-Q-Tel com um único objetivo: organizar, monitorar e manipular o fluxo global de dados. A disputa nunca foi apenas pelo conteúdo, mas pela infraestrutura que carrega o conteúdo. Cabos, satélites, protocolos, servidores. O novo território ocupado não é uma nação: é a sua mente.
A censura moderna não precisa de tanques nem de tiros. Ela se infiltra por meio de termos como “moderação de conteúdo”, “combate à desinformação” e “checagem de fatos”. E para quem tem memória curta, vale lembrar: o mesmo modelo que hoje sustenta a tentativa de regulação do discurso público no Brasil foi criado para justificar a invasão de países inteiros.
Não por acaso, estamos vendo surgir uma tentativa de reescrever os códigos de governança da rede. China e globalistas querem uma arquitetura centralizada, sob controle de organismos multilaterais e cortinas autoritárias. Do outro lado, tecnocratas do Vale do Silício buscam manter seu domínio comercial e informacional. No meio disso tudo, o cidadão — cada vez mais monitorado, cada vez menos soberano.
A guerra informacional começou com a televisão, avançou para os bancos de dados, e agora quer capturar a subjetividade. Trata-se de uma continuidade histórica. E se há algo que a história ensina, é que nenhuma guerra se vence sem compreender o campo de batalha. E neste momento, o campo é digital. E o alvo é você.