Itaú e PSOL protagonizaram mais um capítulo da tragicomédia nacional. De um lado, o banco que há anos financia a cultura progressista, os coletivos certos, os cineastas engajados, os editais identitários, as campanhas pela “democracia”. Do outro, o partido que ajudou a criar esse ambiente ideológico, ocupou o espaço público com pautas simbólicas e articulou pela volta do PT ao poder. São cúmplices na origem — e agora encenam antagonismo.
A sede do banco foi invadida. Supostamente em nome dos pobres. Mas os invasores não eram miseráveis. Eram militantes profissionais, treinados, com assessoria jurídica, estética de protesto e patrocínio indireto de diversas instituições. A indignação vinha com curadoria.
Não foi revolta. Foi performance.
A “luta de classes” virou grife. Não se trata mais de oposição entre trabalho e capital, mas de uma disputa simbólica dentro do próprio sistema. O conflito real — entre o Brasil produtivo e o rentismo, entre o pequeno empreendedor e o monopólio financeiro — desapareceu sob camadas de narrativa. O que restou foi um teatro: uma militância que precisa parecer radical, um banco que precisa parecer tolerante, um governo que precisa parecer popular.
Enquanto isso, o sistema financeiro segue no lucro — e no lucro alto. Em 2023, o Itaú registrou R$ 35,6 bilhões. Em 2024, bateu novo recorde: R$ 41,4 bilhões. Tudo isso sob o governo Lula. O mesmo que a esquerda diz enfrentar, mas que nunca foi tão generoso com os bancos. A esquerda finge que odeia banco. A Faria Lima finge que odeia a esquerda.
E por que isso acontece?
Porque a esquerda trocou o conflito econômico pelo identitarismo domesticado. Abandonou a crítica à estrutura de poder para assumir uma estética de oposição sem conteúdo real. E os bancos entenderam rápido: muito mais seguro financiar uma esquerda inofensiva do que enfrentar uma crítica séria ao próprio sistema.
A nova militância já vem com manual de conduta, roteiro de hashtags e patrocínio para produção de conteúdo. É por isso que o protesto nunca é contra a ciranda da dívida pública, o monopólio bancário, os juros extorsivos ou a financeirização da vida. A rebelião termina onde começa o boletim da B3.
No fim, todos ganham. O banco reforça sua imagem de “ouvido aberto”. O partido reforça sua base com espetáculo e vitimização. A imprensa ganha cliques. E a militância ganha engajamento e talvez um próximo edital.
Só quem perde é o país. Porque a verdadeira luta — aquela que expõe os mecanismos de concentração, a captura institucional e o empobrecimento programado — continua invisível. A encenação ocupou o lugar da crítica. A estética venceu o conteúdo. E o patrocinador virou o protagonista da própria revolução de fachada.