Durante anos, a elite empresarial brasileira se moveu sob a lógica da adaptação silenciosa. Diante da instabilidade política, da volatilidade institucional e das rupturas normativas, a resposta foi sempre a mesma: manter distância, preservar a neutralidade, ajustar a operação conforme o vento. O problema é que essa lógica só funciona enquanto ainda há vento — e chão firme. Quando o país entra em estado de neve cega, seguir em frente sem visibilidade deixa de ser estratégia e passa a ser risco de colisão.
A recente sinalização dos Estados Unidos sobre a adoção de tarifas contra o Brasil foi tratada como gesto político, revanchismo comercial ou ruído diplomático. Mas o conteúdo implícito é outro. As tarifas ainda não começaram, mas já produziram seu efeito: tornaram evidente que o Brasil está sendo reclassificado. De economia emergente com dificuldades, passou a ser lido como jurisdição instável. Não por causa do déficit público, da inflação ou da política cambial — mas porque se tornou um país onde a regra pode ser reescrita a qualquer momento, e por qualquer ator institucional.
Nesse ambiente, a figura do empresário “neutro” é uma ficção que se tornou disfuncional. A tentativa de operar como se o sistema ainda oferecesse garantias mínimas já não encontra amparo nem na prática. O custo de produção aumentou, o acesso ao crédito encolheu, os riscos regulatórios se multiplicaram, e agora a porta de entrada para o mercado internacional começa a se fechar. Ainda assim, parte do empresariado age como se tudo fizesse parte do ciclo normal dos negócios — como se o colapso institucional fosse apenas uma fase ruim do noticiário político.
A crença de que o mercado se adapta a tudo é perigosa. Não porque subestima a capacidade das empresas, mas porque ignora que há riscos que não são mensuráveis nem administráveis quando a instabilidade não vem de fora, mas de dentro. Quando a própria noção de contrato, propriedade e segurança jurídica passa a depender da conjuntura política, já não se trata de ajuste — mas de sobrevivência.
Em silêncio, o empresariado brasileiro aceitou operar num país onde sentenças mudam conforme o contexto, onde a Receita modifica entendimentos sem aviso prévio, onde o Judiciário amplia seu raio de ação para muito além da legalidade formal. E agora, com as tarifas à espreita e a leitura internacional do Brasil em mutação, talvez já seja tarde para fingir que não há um problema de fundo.
Neutralidade, nesse contexto, não garante proteção — apenas posterga o impacto. E num país onde a regra quebra, quem ainda acredita que pode se preservar pela distância já começou a pagar pelo atraso.
Durante anos, a elite empresarial brasileira se moveu sob a lógica da adaptação silenciosa. Diante da instabilidade política, da volatilidade institucional e das rupturas normativas, a resposta foi sempre a mesma: manter distância, preservar a neutralidade, ajustar a operação conforme o vento. O problema é que essa lógica só funciona enquanto ainda há vento — e chão firme. Quando o país entra em estado de neve cega, seguir em frente sem visibilidade deixa de ser estratégia e passa a ser risco de colisão.
A recente sinalização dos Estados Unidos sobre a adoção de tarifas contra o Brasil foi tratada como gesto político, revanchismo comercial ou ruído diplomático. Mas o conteúdo implícito é outro. As tarifas ainda não começaram, mas já produziram seu efeito: tornaram evidente que o Brasil está sendo reclassificado. De economia emergente com dificuldades, passou a ser lido como jurisdição instável. Não por causa do déficit público, da inflação ou da política cambial — mas porque se tornou um país onde a regra pode ser reescrita a qualquer momento, e por qualquer ator institucional.
Nesse ambiente, a figura do empresário “neutro” é uma ficção que se tornou disfuncional. A tentativa de operar como se o sistema ainda oferecesse garantias mínimas já não encontra amparo nem na prática. O custo de produção aumentou, o acesso ao crédito encolheu, os riscos regulatórios se multiplicaram, e agora a porta de entrada para o mercado internacional começa a se fechar. Ainda assim, parte do empresariado age como se tudo fizesse parte do ciclo normal dos negócios — como se o colapso institucional fosse apenas uma fase ruim do noticiário político.
A crença de que o mercado se adapta a tudo é perigosa. Não porque subestima a capacidade das empresas, mas porque ignora que há riscos que não são mensuráveis nem administráveis quando a instabilidade não vem de fora, mas de dentro. Quando a própria noção de contrato, propriedade e segurança jurídica passa a depender da conjuntura política, já não se trata de ajuste — mas de sobrevivência.
Em silêncio, o empresariado brasileiro aceitou operar num país onde sentenças mudam conforme o contexto, onde a Receita modifica entendimentos sem aviso prévio, onde o Judiciário amplia seu raio de ação para muito além da legalidade formal. E agora, com as tarifas à espreita e a leitura internacional do Brasil em mutação, talvez já seja tarde para fingir que não há um problema de fundo.
Neutralidade, nesse contexto, não garante proteção — apenas posterga o impacto. E num país onde a regra quebra, quem ainda acredita que pode se preservar pela distância já começou a pagar pelo atraso.