É curioso observar como parte da elite empresarial brasileira parece convencida de que a crise institucional do país pode ser resolvida com bom networking, jantares de gala e fóruns de prestígio. A cena se repete: empresários reunidos com autoridades do Judiciário, eventos cheios de otimismo performático, colunas celebrando o “espírito colaborativo”. Fica até difícil saber se estamos num país em colapso jurídico ou num clube de negócios em expansão.
O Brasil atravessa um dos momentos mais críticos de sua história recente. Não por indicadores econômicos isolados, mas pela corrosão silenciosa da previsibilidade institucional. Censura normalizada, insegurança regulatória, perseguições políticas, decisões judiciais erráticas — tudo isso afeta diretamente o ambiente de negócios. E, no entanto, boa parte do empresariado prefere agir como se a estabilidade fosse uma questão de etiqueta e diplomacia.
O Grupo Esfera talvez seja o exemplo mais acabado desse fenômeno. Ao invés de se posicionar como voz ativa contra os abusos que corroem a segurança jurídica do país, tornou-se uma espécie de vitrine de prestígio, onde o foco parece ser manter bons contatos — ainda que a estrutura legal desmorone ao redor. Fóruns são realizados, jantares são promovidos, colunas são publicadas… mas as palavras que realmente importam — censura, judicialização da política, aparelhamento institucional — raramente aparecem.
Esse novo otimismo empresarial não é ingênuo. Ele é, em grande parte, um mecanismo de adaptação. Diante de um Judiciário politizado e de um Legislativo paralisado, muitos empresários passaram a operar num sistema informal, onde “conversas certas” e “caminhos corretos” valem mais que regras claras. É uma lógica perversa: para sobreviver, evita-se o conflito. Para manter-se relevante, finge-se normalidade.
O problema é que esse teatro tem custo. Ao se ausentar do debate institucional, o empresariado acaba legitimando os abusos que, em última instância, inviabilizam o próprio investimento. O silêncio que antes protegia, agora compromete. A omissão que antes parecia estratégica, agora revela cumplicidade.
É natural que empresários queiram estabilidade. Mas não se constrói estabilidade institucional evitando temas sensíveis. Não se defende segurança jurídica bajulando quem a destrói. E não se protege o investimento fingindo que o problema é técnico quando, na verdade, é estrutural.
A elite empresarial brasileira precisa decidir se quer apenas sobreviver ao sistema ou ajudar a reformá-lo. Enquanto os fóruns seguirem ignorando o elefante institucional na sala, o país continuará afundando — com ou sem jantares.