A explosão das apostas: um jogo perigoso de empobrecimento, desespero e lucro

O Brasil vive um paradoxo alarmante, imerso em um sistema de empobrecimento programado que perpetua a desigualdade e a desesperança. Nesse contexto, o mercado de apostas online cresce de forma vertiginosa, funcionando como uma engrenagem perversa que explora a vulnerabilidade de milhões. Dados do Banco Central revelam a gravidade do problema: em agosto de 2024, brasileiros gastaram R$ 20 bilhões em apostas online. Deste total, beneficiários do Bolsa Família transferiram impressionantes R$ 3 bilhões para empresas de apostas via PIX, com uma média de R$ 100 por apostador no período.

A situação dos beneficiários do Bolsa Família é um reflexo claro desse empobrecimento programado. Cerca de 17% dos cadastrados no programa, ou seja, 5 milhões de pessoas — das quais 4 milhões são chefes de família —, estavam envolvidos em apostas, destinando R$ 2 bilhões (67% do total gasto por esse grupo) diretamente para as bets. Este valor é alarmante considerando que, em dezembro de 2023, o Bolsa Família repassava uma média de R$ 680,61 por família; o que significa que, para muitos, quase 15% do benefício mensal foi desviado para jogos, comprometendo recursos que deveriam ser usados para necessidades básicas como alimentação e moradia. Esse desvio é um sintoma de um problema maior: um sistema estrutural que, por meio de fatores como a desindustrialização, a informalidade e a ausência de perspectivas, empurra os mais vulneráveis para escolhas que acabam por aprofundar sua pobreza.

A desindustrialização é um dos pilares desse empobrecimento programado. A participação da indústria no PIB brasileiro caiu drasticamente de cerca de 30% nas décadas passadas para os insignificantes 10% de hoje, destruindo milhões de empregos formais e empurrando a força de trabalho para a informalidade.  Esta já atinge 60% dos trabalhadores. Esse processo, agravado por políticas econômicas que priorizam commodities e desvalorizam a produção industrial, deixou um vazio de oportunidades, especialmente para os jovens — o desemprego entre eles supera os 20%. 

Nesse cenário de estagnação e falta de esperança, as apostas se apresentam como uma promessa ilusória de ascensão social, mas, na prática, são apenas mais uma peça de um sistema que mantém as populações vulneráveis presas em um ciclo de pobreza. 

Em 2024, o mercado de apostas online no Brasil movimentou cerca de R$ 240 bilhões. E as projeções para 2025 são ainda mais preocupantes: com base no crescimento anual estimado em 27,1%, o setor pode atingir R$ 305 bilhões. 

Mas o fato incontestável é que cidadãos brasileiros enfrentarão dificuldades financeiras graves à conta de apostas em 2025 – muitos recorrendo a empréstimos informais para sustentar a dependência. É uma espiral perigosa: o desespero disfarçado de passatempo, a frustração levando ao vício, e as dívidas se acumulando, reforçando o empobrecimento programado.

O que chama a atenção é o silêncio de instituições que deveriam proteger a população. ONGs e fundações, tão rápidas em abraçar pautas humanitárias, parecem ignorar o endividamento em massa e as consequências psicológicas causadas pelas apostas. O governo, por sua vez, frequentemente se rende à promessa de arrecadação de impostos. A regulamentação das apostas deve gerar R$ 2 bilhões anuais em tributos a partir de 2025. Mas a que custo? O preço social — famílias destruídas, aumento da violência doméstica e problemas de saúde mental — é incalculável, e o impacto no empobrecimento estrutural é devastador.

As apostas têm um apelo cultural em um país apaixonado por esportes, mas transformá-las em mais uma ferramenta de exploração dentro de um sistema de empobrecimento programado é inaceitável, especialmente quando afeta os mais vulneráveis, como os beneficiários do Bolsa Família, que deveriam estar protegidos por políticas públicas eficazes. É preciso que sejam implementadas medidas que priorizem a educação financeira, a regulação rigorosa do mercado de apostas e o suporte psicológico para quem já caiu na armadilha do vício. Caso contrário, estaremos condenando uma geração inteira a um jogo onde a casa sempre vence — e a sociedade continuará afundando no empobrecimento sistêmico.

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