O Brasil atravessa um processo acelerado de desindustrialização, cujas causas e consequências permanecem amplamente desconhecidas pela população. Esse fenômeno tem impactado negativamente a geração de empregos, reduzido os salários, a produtividade e a capacidade de criação de riqueza do país. Atualmente, o Brasil exporta poucos produtos com valor agregado e depende de mercados externos para o acesso a bens essenciais. Com o avanço das tendências de desglobalização e a retração das cadeias de comércio internacional, essa dependência pode se tornar um problema ainda mais grave, acarretando dificuldades logísticas e altos custos de importação.
A desindustrialização brasileira é intensificada por um ambiente tributário hostil à indústria. A alta carga tributária, que inclui impostos como ICMS, PIS e COFINS, torna os produtos nacionais menos competitivos tanto no mercado interno quanto no externo, elevando consideravelmente os custos de produção. Além disso, a complexidade do sistema tributário cria insegurança jurídica e altos custos de conformidade, desviando recursos que poderiam ser investidos na expansão e modernização industrial.
Outro fator estrutural é a predominância de impostos sobre o consumo, em detrimento de uma tributação mais robusta sobre renda e patrimônio. Isso eleva o custo dos produtos industrializados, penalizando especialmente as camadas mais pobres da população. Simultaneamente, a cumulatividade de tributos como o ICMS – cujos créditos nem sempre são integralmente repassados – aumenta ainda mais os custos ao longo da cadeia produtiva, prejudicando a competitividade da indústria nacional frente a produtos importados que muitas vezes gozam de isenções ou cargas tributárias menores.
Diante desse cenário, a solução não passa apenas pela escolha de um “grande gestor” ou administrador habilidoso, como muitos liberais defendem. O problema é muito mais profundo. O Brasil enfrenta graves mazelas institucionais que comprometem o funcionamento básico do Estado. Os problemas estão por todos os lados: justiça, gestão orçamentária e a falta de implementação de políticas de longo prazo. A questão não se limita à redução de impostos sobre o setor produtivo sem comprometer as finanças públicas ou a administração da dívida, mas exige uma reestruturação abrangente das instituições e processos que, hoje, se mostram disfuncionais.
Um exemplo emblemático dessa disfunção institucional foi o escândalo da Americanas, que revelou a fragilidade do mercado financeiro brasileiro. A empresa, uma das gigantes do varejo nacional, manipulou balanços para aparentar uma lucratividade inexistente. Dois conjuntos de balanços coexistiam: um refletindo a realidade e outro inflado, apresentado ao mercado e ao conselho de administração. Essa fraude permitiu que executivos recebessem bônus milionários e inflacionassem artificialmente o valor das ações.
No centro do esquema estava a manipulação da Verba de Propaganda Cooperada (VPC), com contratos fictícios que reduziam custos reportados e criavam a ilusão de rentabilidade. Além disso, operações de risco e financiamentos omitidos esconderam bilhões em dívidas. Quando o esquema veio à tona, as ações da empresa despencaram 97% e, com uma dívida de quase R$ 50 bilhões, As Lojas Americanas entraram em recuperação judicial, deixando investidores em enorme prejuízo.
O episódio expôs a incapacidade das instituições brasileiras de prevenir e lidar exemplarmente com fraudes dessa magnitude, abalando a confiança de investidores no mercado financeiro e demonstrando que o problema do Brasil não é apenas macroeconômico. Nosso sistema institucional está doente e, se não enfrentarmos essa realidade, continuaremos a viver as consequências de um país que se afasta cada vez mais do desenvolvimento sustentável e inclusivo.