Paulo Freire e Wokismo na Formação Docente

Por 5º Elemento

30/11/2024

Por Anamaria Camargo

Segundo o guru dos “educadores Woke”, “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos.” (Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido)

No seu palavrório pretensamente erudito, o que Paulo Freire chama de “objetos cognoscíveis” são justamente o que nós, pais, mães, sociedade esperamos que sejam ensinados – os conteúdos das disciplinas: matemática, língua portuguesa, ciências, etc. Segundo ele, no entanto, todo esse conteúdo, que é “possuído pelo professor”, deve servir apenas de meio para o que chama da educação humanizadora; o professor que se limita a ensiná-lo está reforçando a posição do opressor e “domesticando” os estudantes.

Para promover justiça social, portanto, cabe ao professor aproveitar-se da audiência cativa dos seus alunos e, usando o conteúdo das suas disciplinas como meio, conscientizá-los para que sejam “humanizados”, movidos a transformar o mundo. Vindo de quem se dizia ser “professor contra a ordem capitalista vigente”, podemos entender que tipo de transformação ele buscava.

A verdade é que o bom professor não apenas sabe mais do que seus alunos, como sabe ensinar o que conhece. Sua missão é justamente fazer com que os conhecimentos técnicos, baseados em evidências e não em “saberes diversos,” “possuídos” por ele, sejam apropriados por seus alunos de maneira responsável e ética. Para prepará-los para essa tarefa, existem os cursos de formação docente. Lamentavelmente, o Wokismo e o pensamento do guru sobre o papel do professor ainda prevalece nos cursos de formação docente nas universidades nos Estados Unidos. Isso nos impacta diretamente, considerando o hábito dos nossos especialistas em “educação Woke” de macaquear os intelectuais americanos.

Se você acha que eu estou exagerando sobre a prevalência do Wokismo e da influência do guru Paulo Freire na formação dos professores americanos, leia adiante. Em agosto de 2024, a ONG Parents Defending Education publicou um relatório sobre o nível de doutrinação Woke nas faculdades de educação que formam os educadores atuais e futuros do ensino fundamental e médio dos Estados Unidos. Foram examinados 110 programas de estudo e 53 descrições de cursos de 50 faculdades e universidades, desde pequenas faculdades privadas até grandes instituições estatais e universidades de elite. O relatório revelou a ampla difusão de ideologias de esquerda radical nos cursos de graduação e pós-graduação em Educação.

Nos programas de estudo, há 54 referências à Teoria Crítica da Raça, 28 referências à Teoria Crítica, 18 referências à “opressão” e/ou “poder”, 16 referências a Robin DiAngelo – conhecida escritora americana que promove a ideia de que todas as pessoas brancas são racistas –, 34 referências a “ queer” ou os princípios da Teoria Queer, 31 referências ao privilégio branco, 20 referências à supremacia branca, 28 referências à branquitude, além de 55 referências a Paulo Freire e à “Pedagogia do Oprimido.”

O Case explorado no Relatório é o da Portland State University, cujo programa geral de Educação é centralizado na ideia do “Professor como Ativista”.

Um exemplo de disciplina para professores que atuarão no Ensino Fundamental (crianças de 5 aos 11 anos) é a ITP 456/556: Identidade e Aprendizagem Socioemocional.

Segundo o documento de introdução à disciplina, os professores têm um papel significativo no estabelecimento da sala de aula como ambiente propício para a promoção da aprendizagem socioemocional culturalmente elevada.’ Ainda segundo esse documento, em todos os procedimentos, instruções e interações diárias com os alunos, os futuros professores deverão utilizar a “lente” da Aprendizagem Socioemocional Transformativa, centrando em práticas antirracistas e de justiça restaurativa que correspondam às experiências vividas pelos alunos do Ensino Fundamental e às práticas que sustentam suas comunidades.

Durante a primeira semana dessa disciplina, os futuros professores participam de uma atividade chamada de ‘Mapeamento de Identidade Social, em que devem se posicionar nas interseções das categorias de opressão ‘Agente’ e ‘Alvo’. Homens brancos ocupam a categoria de “agente” de opressão enquanto uma mulher “de Cor” ocupa a categoria “alvo” de opressão. Outros exemplos de identidade de “agentes” de opressão são “heterossexuais”, “ricos, de classe alta”, nascidos nos “Estados Unidos”, “bonito conforme mídia”, “casado” e “monogâmico”, “de idade apropriada” e “cristão”.

Certamente, esta será a maneira com que os futuros alunos de 5 a 11 anos desses que estão sendo formados serão levados a se identificar e a enxergar os outros. Não em aulas especificamente voltadas para a aprendizagem socioemocional, mas em todos os procedimentos, instruções e interações diárias com os alunos.

Como mostra o relatório, o perfil extra Woke do curso de formação docente de Portland State University está longe de ser um caso isolado. Nos outros programas analisados, estão hegemonicamente presentes a Teoria Crítica da Raça, a retórica anti-branca e a Teoria Queer. No entanto, para reforçar a importância atual de Paulo Freire nesses cursos e sua relação com os temas do Wokismo, listo a seguir algumas das muitas disciplinas citadas que trazem Paulo Freire como leitura obrigatória:

• Educação Multicultural e Social para Liderança (University of Alabama)

• Diversidade Cultural no Ensino e Aprendizagem de Música (Arizona State University)

• Cidadania Global: Lendo o Mundo e a Palavra (University of Arizona)

• O Papel da Diversidade Cultural na Escolarização (California State University San Marcos)

• Ética, Diversidade, Reflexão: Introdução à Educação Básica (K-12) (Santa Clara University)

• Literacias Cívicas na Aprendizagem e no Ensino (Stanford University)

• (Além) da Equidade e da Escolarização (Stanford University)

• A Arte de Fazer Sentido: Perspectivas Educacionais sobre Literacia e Aprendizagem em um Mundo Globalizado (University of California Berkeley)

• Raça, Classe e Cultura em Educação (University of California Santa Cruz)

• Escola e segurança (University of Colorado Boulder)

• Educação para a Justiça (Trinity College)

• Decolonizando a Educação (Wesleyan University)

• Questões de Paz, Justiça Social e Reforma Educacional (Chaminade University of Honolulu)

• Estudos Étnicos e Educação (Harvard University)

• Professores e Ensino em Contextos Urbanos (Michigan State University)

• Buscando DIJE (Diversidade, Inclusão, Justiça, Equidade) (University of Michigan)

• Ensinando Estudos Sociais para Níveis Elementares e Médios (Mississippi State University)

• Educação e Sociedade (Rutgers University)

• A Escola Americana (Colgate University)

• Lendo o Mundo: Paulo Freire, História Local e Pedagogia Pública (University of North Carolina)

• Cultura, Lei e Política (Portland State University)

• Pedagogia e Poder: Introdução à Educação (Swarthmore College)

• Fundamentos de Ensino e Aprendizagem (University of Pennsylvania)

• Pedagogia Culturalmente Responsiva (University of Pittsburgh)

• Estudos Étnicos e Educação (Brown University)

• Influências Socioculturais na Educação (University of Texas at Austin)

• Diversidade em Ambientes Educacionais (University of Texas at El Paso)

• Introdução à Educação Multicultural (University of Utah)

• Questões de Políticas de Linguagem, Raça e Escola (University of Vermont)

Outro exemplo de como a seita Woke vem tomando espaço da formação docente baseada em evidências científicas é o do ‘Instituto Mente Corpo Espiritualidade’. A partir do site desse Instituto, podemos acessar as Escolas Despertadas (Awakened Schools), que, segundo eles mesmos, trata-se de “um curso espiritual de um ano de duração, que combina pesquisas científicas inovadoras e estruturas educacionais inclusivas que resultam em ferramentas úteis para educadores. As estruturas incluem Pedagogia culturalmente e linguisticamente sustentadoras, aprendizagem centrada na cura, literacias em todas as áreas de conteúdo, aprendizagem socioemocional, educação para a justiça social e ensino baseado em traumas.”

Se essa descrição parece se referir menos a um curso de formação de professores e mais a um curso de formação de líderes espirituais que vendem a cura para traumas e mostram o caminho para a salvação através de manipulação psicológica e verborragia mística, é porque é exatamente disso que se trata. O detalhe constrangedor, ainda que pouco surpreendente, é o de que o Instituto Mente Corpo Espiritualidade, que promove esse curso, faz parte do Teachers College da prestigiosa Columbia University.

Enquanto os futuros professores americanos se formam na doutrina da seita Woke, o que inclui o estudo de textos sagrados do guru Paulo Freire e aprendizagem centrada na cura espiritual combinada com “pesquisas científicas inovadoras” (certamente baseadas em “saberes diversos”), uma quantidade significativa de jovens americanos não consegue ler no nível adequado. Lá, como cá, o Wokismo segue fazendo estragos. A verdade é que por aqui, a possibilidade de piorar é mais reduzida – o que não chega a ser propriamente um consolo…

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