Publicado em 11 de Agosto de 2025
O centrão mantém um velho método: tudo é decidido na taba dos caciques, guiado pelo interesse imediato e pela preservação de espaços de poder, além dos cargos do fundão. É a política reduzida a uma equação de cargos, verbas e influência, sem qualquer esforço real para compreender que o cenário de 2026 será moldado também por fatores externos sobre os quais Brasília não tem controle. Essa miopia é irresponsável e conveniente. Ao ignorar as variáveis externas, preserva-se o conforto do jogo interno, onde poucos controlam as regras e ninguém presta contas pelo que está além do plenário.
O fisiologismo opera como se o Brasil fosse uma ilha isolada, imune a tarifas, sanções, mudanças no fluxo de capitais, rearranjos diplomáticos e crises regionais. Nos últimos anos, todos esses elementos afetaram diretamente a economia e a capacidade de governar, mas para o centrão continuam sendo ruídos que não merecem espaço na pauta. O resultado é um país que reage tarde, quase sempre depois que os custos já se tornaram irreversíveis. E aqui cabe uma ressalva: não se trata de condenar pressões externas — muitas destas reações fazem parte legítima do jogo político internacional. A crítica está na incapacidade da política interna de se preparar para essas movimentações e de usá-las a seu favor.
O problema, no entanto, não é exclusivo do centrão. O PL, que deveria compreender o peso da geopolítica para a preservação de um projeto político nacional, muitas vezes se comporta como se esse tema não existisse. Alheio aos movimentos de partidos de direita no exterior, negligencia articulações estratégicas e trata a formação de base política e militante como um exercício protocolar, quase cenográfico. Perde-se aí a oportunidade de criar redes de apoio, construir narrativas internacionais e preparar a militância para uma disputa que inevitavelmente será influenciada por pressões externas.
Enquanto partidos conservadores no mundo inteiro investem em coordenação internacional, o PL insiste em atuar como se a arena política fosse puramente doméstica. E, assim como o centrão, limita-se a cálculos de curto prazo, revezando-se entre ocupar espaços e manter canais de negociação. O discurso de resistência e defesa da soberania não se sustenta se, na prática, a estrutura partidária ignora que alianças e estratégias globais podem definir tanto o ambiente econômico quanto a viabilidade de políticas internas.
Esse descompasso enfraquece o campo político que o PL e seus aliados dizem representar. Não basta manter capital eleitoral se ele não for protegido e ampliado por meio de articulação internacional, inteligência estratégica e formação de quadros preparados para enfrentar um cenário global competitivo e instável. Quando esses elementos ficam de fora da equação, sobra a improvisação.
A disputa de 2026 não será decidida apenas nas alianças internas, no tempo de TV ou nas negociações por ministérios. Será influenciada por choques externos, mudanças nos alinhamentos internacionais, disputas comerciais e crises financeiras que não esperam pela conveniência do calendário brasileiro. Fingir que isso não existe — seja pelo centrão, seja pelo PL — é escolher a cegueira estratégica. E essa escolha tem consequências: chegar ao poder sem as ferramentas para governar e, pior, sem a capacidade de proteger o próprio projeto político.
O Brasil não pode seguir refém de uma política que confunde a sobrevivência de caciques com a estratégia de país. Pelo que se vê, tanto o centrão quanto o PL parecem mais preocupados em proteger feudos e garantir posições no presente do que em preparar o terreno para enfrentar crises já no horizonte. Em 2026, quem apostar nesse jogo de faz de conta poderá até vencer uma eleição, mas governará sobre um terreno instável — e com pouca margem para culpar apenas os inimigos externos por uma fragilidade que começou dentro de casa.