Checada na Exame

Por Carlos de Freitas

Imagine um reino em que o rei aumenta os impostos sobre o pão, e a população começa a reclamar de fome. Os arautos do castelo, então, correm às ruas para anunciar: “Estudos mostram que comer menos fortalece o caráter e melhora a circulação sanguínea!”

Pois bem, bem-vindo ao Brasil da era Lula, onde a imprensa, em seu zelo quase maternal pelo governo, agora tenta nos convencer de que o problema do café não é seu preço absurdo, mas sim os supostos “efeitos mutagênicos” da bebida.

A Exame, em um ato de pura ginástica jornalística, nos brinda com uma manchete alarmista: “Beber café todos os dias pode causar grandes ‘mutações’ nos rins — e fenômeno surpreende cientistas.” Como se o brasileiro precisasse de mais mutações além daquelas já impostas pelo custo de vida e pela inflação fora de controle.

Pense você se a gente só tivesse a mídia tradicional como fonte de informação! Que tragédia! Vejam vocês, os estudos mais respeitáveis apontam que o café, consumido com moderação, protege os rins.

A própria comunidade do X se apressou a corrigir essa fábula desajeitada, desmascarando mais uma tentativa de desviar o foco do verdadeiro problema – a incompetência econômica.

E aqui cabe uma pergunta sincera: por que esse desespero todo? Será que já não basta a Miriam Leitão nos dizer que o crescimento da miséria é, na verdade, um “ajuste necessário”? Ou a Daniela Lima tentando nos convencer de que pagar mais impostos é um ato de cidadania elevada?

Agora querem nos convencer de que não tomar café é uma bênção evolutiva? Quem será o próximo alvo dessa criatividade jornalística? O arroz? O feijão? Quem sabe amanhã descobrimos que o estômago colado nas costas melhora a saúde do fígado e que morar debaixo de um viaduto reduz o risco de intoxicação por tinta de parede.

Se o preço do café tivesse despencado, a manchete seria outra. Algo como “Redução no preço do café comprova acerto da política econômica de Lula.”

Cícero disse que o rosto é o espelho da alma. Ou foi o Chacrinha? O nosso jornalismo atual é feito por caras e bocas, e manchetes, mas alma nenhuma.

Vale tudo para proteger o governo. Até convencer as pessoas que não basta aceitar a pobreza, é preciso festejá-la.