José Ortega y Gasset, renomado filósofo espanhol do século XX, acreditava que o Estado não surge de necessidades econômicas ou naturais, mas é uma construção histórica moldada por atividades competitivas e bélicas de jovens em sociedades primitivas. Essa ideia reflete sua máxima de que “o homem não tem natureza; o que tem é história”, que ressalta o quanto o ambiente pode influenciar para além de padrões de comportamento, destacando a importância dos processos sociais na formação das estruturas políticas.

Ortega argumenta que o Estado tem raízes nas ações “deportivas” de jovens em hordas paleolíticas e mesolíticas, abrangendo jogo, competição e luta. Ele descreve como esses jovens, unidos por idade, realizavam atos como o rapto de mulheres de outros grupos, desencadeando conflitos. Esses embates exigiam liderança, disciplina e organização, lançando as bases para o Estado. 

Diferentemente das teorias tradicionais, Ortega atribui esse papel inicial não a trabalhadores ou comerciantes, mas a jovens guerreiros que precisavam de disciplina para sobreviver e expandir sua influência — nessa forma primitiva de Estado, representada pelo rapto de mulheres de tribos vizinhas — e repelir ataques de outros grupos.

O Estado é fundamentalmente ligado à unidade e sobrevivência de uma nação, é uma estrutura institucional — o que é muito diferente de ser apenas uma estrutura puramente burocrática ou legalista — que visa organizar e garantir a sobrevivência daquele povo.


Não existe Estado sem exército, corpo diplomático, lideranças que conheçam profundamente o desenvolvimento histórico das instituições e um conjunto abstrato de interesses que garantam a sobrevivência e expansão do poder dessa unidade política.

Quando falamos em “Estado paralelo”, “narcoestado” ou “tribunal do crime” — expressões que indiretamente supõe a existência de instituições de Estado por parte das facções criminosas —, precisamos ter em mente o peso real do que isso significa. Essas afirmações simplesmente querem dizer que o Estado brasileiro tem unidades políticas articuladas disputando o poder e dominando seu território, sem estarem sujeitos às normas constitucionais – e possivelmente utilizando da força que o Estado tem o monopólio para manter o domínio sobre territórios que pertencem ao Brasil.
Na prática o que vemos são facções criminosas oprimindo cidadãos brasileiros, promovendo roubos e latrocínio, tirando vidas, destruindo famílias e se infiltrando nas instituições. Falamos aqui de domínio territorial da nação, de grupos criminosos que querem sobrepor o seu poder ao do Estado e assumir o comando local.

Estranhamente, isto não soa como um golpe de Estado para a grande mídia, não parece um problema mais urgente do que a regulamentação das redes sociais, condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe ou mesmo tentar rotular Donald Trump como um louco com ímpeto de destruição. Quando falamos de narcoestado, estamos falando de suas vítimas, reféns de facções criminosas.

Quando falamos de narcoestado, estamos nos referindo a exércitos paralelos, poderio bélico ilegal, sem controle ou regulação do Estado.
O debate público brasileiro precisa medir o peso real dessa ameaça, não somente para que essa guerra seja vencida, mas para que o máximo de vidas sejam poupadas.

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