Por: Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino

Uma breve seleção de notícias nos dá nos dá a já inocultável retração da agenda da “descarbonização” da economia global, sobre a qual foi erguido o castelo de cartas das “finanças verdes”, com o golpe potencialmente fatal recebido com o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Vejamos:

1) Divulgações de balanços no S&P 500 mostram 76% menos citações ambientais.

De acordo com o boletim especializado Bloomberg Green, as menções aos temas ambientais (sustentabilidade, mudança climática, aquecimento global, ESG, energia limpa, energia verde etc) caíram 76% nas divulgações de balanços de empresas listadas no índice S&P 500, desde o pico registrado no início de 2022, meses antes da aprovação da Lei de Redução de Inflação (Inflation Reduction Act) pelo governo Joe Biden.

O recuo coincide com a determinação do governo Trump de retirar os EUA da agenda “descarbonizadora”, como explica a chefe de Pesquisa de Investimentos Sustentáveis da Morningstar Inc., Hortense Bioy: “Você tem esse novo governo que é anticlima e quer fazer tudo isso desaparecer. Então, para muitos executivos, a história climática tem que desaparecer”, mesmo que alguns investidores ainda estejam interessados (Bloomberg, 27/03/2025). 

Embora alguns entrevistados tenham sugerido que a tendência pode ser parte da estratégia de algumas empresas para avançar nas metas vinculadas ao clima com um perfil propagandístico mais baixo, para evitar atenções indesejáveis, é pouco provável que a maioria de tais planos tenha condições de se concretizar, em meio ao ambiente de questionamentos crescentes sobre a viabilidade da “descarbonização”.

2) Larry Fink “esquece” o clima.

O CEO do megafundo de gestão de ativos BlackRock, Larry Fink, não fez uma única menção ao tema do clima na sua carta anual deste ano. Uma redução considerável desde as 29 menções na carta de 2020 – que já havia sido reduzida a apenas quatro na carta de 2024. Considerando que Fink foi, durante algum tempo, o maior corneteiro das “finanças verdes”, esta talvez seja a maior evidência das perspectivas negativas do setor (fonte: https://x.com/TomANelson/status/1907088659863441890).

3) SEC aprova fim de regras de divulgação de riscos climáticos.

Em 27 de março, a Securities and Exchange Commission (SEC) norte-americana suspendeu as suas próprias regras de exigência de divulgação de riscos relacionados ao clima e às emissões de gases de efeito estufa. As normas, estabelecidas em março de 2024, exigiam detalhados relatórios específicos de tais riscos e foram contestadas judicialmente por empresas e vários estados. O presidente interino da SEC, Mark T. Uyeda, justificou: “O objetivo da ação e notificação de hoje da Comissão ao tribunal é cessar o envolvimento da Comissão na defesa de regras de divulgação de mudança climática custosas e desnecessariamente intrusivas” (SEC, 27/03/2025).

4) Barclays e NatWest retiram critérios de sustentabilidade dos bônus de executivos.

Os dois bancos britânicos retiraram tais critérios dos planos de bonificações de curto prazo dos seus executivos, passando a vincular as metas climáticas aos esquemas de incentivos de longo prazo. A medida se alinha com uma tendência mais ampla no mundo corporativo: a de reduzir ou eliminar inteiramente os critérios ambientais e de diversidade dos pacotes de bonificações dos executivos (BusinessMatters, 18/02/2025).

5) Bill Gates também se afasta da transição energética.

Depois de anos pontificando sobre a suposta emergência climática, tendo chegado a escrever um livro sobre o assunto (Como evitar um desastre climático: as soluções que temos e as inovações necessárias, Companhia das Letras, 2021), o todo poderoso Bill Gates parece ser outro a jogar a toalha em relação à “indústria climática”. Segundo o New York Times de 12 de março, a Breakthrough Energy, organização fundada pelo multibilionário para investir em uma gama de iniciativas vinculadas ao clima, anunciou grandes cortes em suas operações. De acordo com um memorando interno, a entidade está cortando grande parte do seu pessoal, inclusive na sua unidade europeia, na equipe de políticas públicas e nas parcerias com outras organizações climáticas. Mas, sem surpresa, o fundador da Microsoft não passou recibo, tendo encarregado um porta-voz de proclamar: “Bill Gates continua tão comprometido como sempre em promover as inovações de energia limpa necessárias para enfrentar a mudança climática. O seu trabalho nessa área continuará e é enfocado em ajudar a impulsionar soluções de energia limpa acessíveis que permitirão às pessoas prosperar em toda parte.”

Oh, yes!…

6) Juiz de New Jersey julga improcedente processo climático contra petroleiras.

Um tribunal de apelações de New Jersey considerou improcedente um processo movido pela Procuradoria Geral do estado contra as petroleiras ExxonMobil, BP, Chevron, ConocoPhillips  Shell e o American Petroleum Institute (API), por liderarem uma “campanha de desinformação para desacreditar o consenso científico sobre a mudança climática” e criarem “dúvidas nas mentes dos consumidores” sobre os impactos da queima de combustíveis fósseis na mudança do clima (ESG Dive, 10/02/2025). Na decisão, o juiz Douglas Hurd afirmou que os argumentos da Procuradoria eram “inteiramente sobre abordar os danos da mudança climática global e buscar prejuízos por tais danos”. O que, segundo ele, contraria leis federais que não podem ser suplantadas por leis estaduais.

Em janeiro, um tribunal de Nova York já havia rejeitado um processo semelhante da Prefeitura da cidade contra as mesmas empresas, acusando-as de práticas de “greenwashing” (logro sobre práticas ambientais) e de acelerar a mudança climática.

7) Suprema Corte dos EUA julga improcedente processo climático juvenil.

No último dia 24 de março, a Suprema Corte enterrou de vez o mais longo caso de litigação climática da história recente dos EUA, intitulado “Juliana et al. Contra os Estados Unidos da América”. O processo foi aberto em 2015 por 21 jovens ativistas climáticos representados pela ONG Our Children’s Trust, assessorados pelo notório climatologista James Hansen, um veterano propagandista do catastrofismo climático. O argumento básico era que, ao permitir o uso de combustíveis fósseis, o governo havia violado conscientemente os direitos dos litigantes à vida, liberdade e propriedade, assim como seu dever de proteger o ambiente em geral. Em 2020, o Nono Circuito do Judiciário julgou o caso improcedente, mas os ativistas recorreram, apenas para que a corte repetisse a decisão. O caso foi, então, levado à Suprema Corte, que simplesmente declinou da aceitação (Reuters, 24/03/2025).

8) E até a Petrobras…

Aparentemente, navegando na esteira das majors do setor, a Petrobras começa a sinalizar menos interesse nos investimentos relacionados à transição energética como atualmente é formulada. Para a empresa, parcerias ou aquisições de ativos vinculados à transição energética podem gerar impactos sobre o seu perfil de risco e a taxa de retorno do seu portfólio, avaliação apresentada a investidores internacionais em um formulário da Securities and Exchange Commission (SEC). “O desenvolvimento de produtos e serviços com baixo carbono está sujeito a incertezas que podem ter um efeito adverso em nossos resultados financeiros esperados (…). Incertezas com relação ao ritmo dessa transição energética podem afetar a demanda de produtos, levando a possíveis restrições de produção e fornecimento, o que poderia prejudicar o desenvolvimento de novas oportunidades de negócios lucrativos”, diz o documento (Valor Econômico, 08/04/2025). Segundo a presidente Magda Chambriard, a empresa agora prioriza “a molécula em vez do elétron”, significando que pretende concentrar as atenções em combustíveis renováveis, como o diesel verde, coprocessado nas refinarias, o que permite mais aproveitamento de infraestrutura existente, em vez da geração de energia elétrica renovável em eólicas offshore e outras fontes, o que ainda exigiria aprendizado da estatal.

Antes tarde do que nunca.

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